17/08/2008

Sereias IV

E para terminar: (...)É nesse sentido que, de algum modo, a poesia de Herberto Helder passa a ser exemplar para a literatura portuguesa, para língua e para a cultura do canto de Camões, a do “Eu canto ao peito ilustre lusitano”, mostrando que tal canto, tal peito, e tal lusitano serão tanto mais ilustres quanto mais puderem, cada qual, abandonar seus dilemas, suas lembranças imperiais, seus ressentimentos e pretensões histórico-colonizadores, lançando-se à abertura sedutora dos cantos das Sereias universais, não para inferiorizá-los, não para abandoná-los tão logo os tenha ouvido, mas como abertura sem fim, capaz de ajudar a diluir, em sua potência descentralizadora, em sua miscigenação ibérico-católico-tribal, as muitas outras forças bélicas que tentam, hoje, inviabilizá-la, dotando-a, a literatura de língua portuguesa, de velhas e novas incursões expansivas, não mais imperiais, mas como nome que detém o seu próprio canto fabuloso e amoroso. (...)

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