22/05/2009
30/03/2009
Não sei como dizer-te que minha voz te procura
Não sei como dizer-te que minha voz te procura
e a atenção começa a florir, quando sucede a noite
esplêndida e vasta.
Não sei o que dizer, quando longamente teus pulsos
se enchem de um brilho precioso
e estremeces como um pensamento chegado. Quando,
iniciado o campo, o centeio imaturo ondula tocado
pelo pressentir de um tempo distante,
e na terra crescida os homens entoam a vindima
- eu não sei como dizer-te que cem ideias,
dentro de mim, te procuram.
Quando as folhas da melancolia arrefecem com astros
ao lado do espaço
e o coração é uma semente inventada
em seu escuro fundo e em seu turbilhão de um dia,
tu arrebatas os caminhos da minha solidão
como se toda a casa ardesse pousada na noite.
- E então não sei o que dizer
junto à taça de pedra do teu tão jovem silêncio.
Quando as crianças acordam nas luas espantadas
que às vezes se despenham no meio do tempo
- não sei como dizer-te que a pureza,
dentro de mim, te procura.
Durante a primavera inteira aprendo
os trevos, a água sobrenatural, o leve e abstracto
correr do espaço -
e penso que vou dizer algo cheio de razão,
mas quando a sombra cai da curva sôfrega
dos meus lábios, sinto que me faltam
um girassol, uma pedra, uma ave - qualquer
coisa extraordinária.
Porque não sei como dizer-te sem milagres
que dentro de mim é o sol, o fruto,
a criança, a água, o deus, o leite, a mãe,
o amor,
que te procuram.
Herberto Helder
e a atenção começa a florir, quando sucede a noite
esplêndida e vasta.
Não sei o que dizer, quando longamente teus pulsos
se enchem de um brilho precioso
e estremeces como um pensamento chegado. Quando,
iniciado o campo, o centeio imaturo ondula tocado
pelo pressentir de um tempo distante,
e na terra crescida os homens entoam a vindima
- eu não sei como dizer-te que cem ideias,
dentro de mim, te procuram.
Quando as folhas da melancolia arrefecem com astros
ao lado do espaço
e o coração é uma semente inventada
em seu escuro fundo e em seu turbilhão de um dia,
tu arrebatas os caminhos da minha solidão
como se toda a casa ardesse pousada na noite.
- E então não sei o que dizer
junto à taça de pedra do teu tão jovem silêncio.
Quando as crianças acordam nas luas espantadas
que às vezes se despenham no meio do tempo
- não sei como dizer-te que a pureza,
dentro de mim, te procura.
Durante a primavera inteira aprendo
os trevos, a água sobrenatural, o leve e abstracto
correr do espaço -
e penso que vou dizer algo cheio de razão,
mas quando a sombra cai da curva sôfrega
dos meus lábios, sinto que me faltam
um girassol, uma pedra, uma ave - qualquer
coisa extraordinária.
Porque não sei como dizer-te sem milagres
que dentro de mim é o sol, o fruto,
a criança, a água, o deus, o leite, a mãe,
o amor,
que te procuram.
Herberto Helder
15/02/2009
Grito Claro
GRITO CLARO
De escadas insubmissas
de fechaduras alerta
de chaves submersas
e roucos subterrâneos
onde a esperança enlouqueceu
de notas dissonantes
dum grito de loucura
de toda a matéria escura
sufocada e contraída
nasce o grito claro
António Ramos Rosa
De escadas insubmissas
de fechaduras alerta
de chaves submersas
e roucos subterrâneos
onde a esperança enlouqueceu
de notas dissonantes
dum grito de loucura
de toda a matéria escura
sufocada e contraída
nasce o grito claro
António Ramos Rosa
22/01/2009
Cândura
LEURS YEUX TOUJOURS PURS
Jours de lenteur, jours de pluie,
Jours de miroirs brisés e d'aiguilles perdues,
Jours de paupières closes a l'horizon des mers,
D'heures toutes semblables, jours de captivité,
Mon esprit qui brillait encore sur les feuilles
E les fleurs, mon esprit est nu comme l'amour,
L'aurore qu'il oublie lui fait baisser la tête
Et contempler son corps obéissant et vain.
Pourtant, j'ai vu les plus beux yeaux du monde,
Dieux d'argent qui tenaient des saphirs dans
[ leurs mains,
De véritables dieux, des oiseaux dans la terre
E dans l'eau, je les ai vus.
Leus ailes sont les miennes, rien n'existe
Que leur vol qui secoue ma misère,
Leur vol d'étoile e de lumière
Leur vol de terre, leur vol de pierre
Sur les flots de leurs ailes,
Ma pensée soutenue par la vie e la mort.
Paul Eluard
Jours de lenteur, jours de pluie,
Jours de miroirs brisés e d'aiguilles perdues,
Jours de paupières closes a l'horizon des mers,
D'heures toutes semblables, jours de captivité,
Mon esprit qui brillait encore sur les feuilles
E les fleurs, mon esprit est nu comme l'amour,
L'aurore qu'il oublie lui fait baisser la tête
Et contempler son corps obéissant et vain.
Pourtant, j'ai vu les plus beux yeaux du monde,
Dieux d'argent qui tenaient des saphirs dans
[ leurs mains,
De véritables dieux, des oiseaux dans la terre
E dans l'eau, je les ai vus.
Leus ailes sont les miennes, rien n'existe
Que leur vol qui secoue ma misère,
Leur vol d'étoile e de lumière
Leur vol de terre, leur vol de pierre
Sur les flots de leurs ailes,
Ma pensée soutenue par la vie e la mort.
Paul Eluard
27/12/2008
Novo Ano
E morará o lobo com o cordeiro e o leopardo com o cabrito se deitará e o bezerro e o filho do leão e a nédia da ovelha viverão juntos e um menino pequeno os guiará.
ISAIAS, 11.6
ISAIAS, 11.6
17/12/2008
Perder
Em 2008 perdi amigos, família, estranhos que se aproximavam...
Uns morreram, outros afastaram-se
A morte que leva uns não é a da mesma raça das razões que afastaram os outros
A morte é brutal,crua, verdadeira... As razões para os afastamentos foram mentiras, medo, invejas, egoísmos.
Não sei se só a morte nos aproximará de novo, ou se tudo um dia será explicado por uma outra qualquer razão que me escapa neste momento.
Será que só conseguimos estar perto de quem está mais longe? Será a proximidade tão difícil de manter?
Uns morreram, outros afastaram-se
A morte que leva uns não é a da mesma raça das razões que afastaram os outros
A morte é brutal,crua, verdadeira... As razões para os afastamentos foram mentiras, medo, invejas, egoísmos.
Não sei se só a morte nos aproximará de novo, ou se tudo um dia será explicado por uma outra qualquer razão que me escapa neste momento.
Será que só conseguimos estar perto de quem está mais longe? Será a proximidade tão difícil de manter?
01/12/2008
A Neve
O silêncio branco da tua boca
dança uma valsa no meu cabelo
ao som do vento.
Subimos o rodopio agreste,
contando os passos,
no segundo a seguir à morte
O deserto ergeu-se, em calor e sede
atravessado em rastos
de miragens
seguiu-se a intensidade da luz.
Sobrou o corpo.
Quieto na terra, gelado.
dança uma valsa no meu cabelo
ao som do vento.
Subimos o rodopio agreste,
contando os passos,
no segundo a seguir à morte
O deserto ergeu-se, em calor e sede
atravessado em rastos
de miragens
seguiu-se a intensidade da luz.
Sobrou o corpo.
Quieto na terra, gelado.
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